Vida de Rita Lee também foi marcada por polêmicas; sexo, drogas e aborto

Autobiografia revelou bastidores e muita intimidade

Publicado em 09/05/2023 12:16
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A morte de Rita Lee, nessa segunda-feira (8), deixa o país órfão de uma das maiores referências do rock nacional e traz a memória de todas as suas conquistas e polêmicas envolvendo sua vida. Em seu livro Rita Lee – Uma Autobiografia, lançado pela Globo Livros. A cantora revela que fez um aborto e fala sobre suas internações por drogas, a artista narrou como foi a violência sexual que sofreu aos seis anos de idade.

“Um dia a máquina de costura Singer de Chesa [mãe dela] engasgou e veio um técnico da firma. Me contaram que eu brincava no chão da copa enquanto minha mãe mostrava pro cara onde a coisa estava enguiçada. O telefone tocou, ela saiu para atender. Quando voltou, me encontrou sozinha no mesmo lugar, olhando petrificada para o cabo de uma chave de fenda enfiada fundo na minha vagina, de onde escorria uma gosma vermelha”, relatou na publicação. “O f#lh$ da p@ta do técnico fez aquilo e sumiu do mapa. Foi o grito alucinante da minha mãe que me tirou o torpor e, vendo ela se desesperar, eu abri mó berreiro também. Não lembro de ter sentido dor, nem do que aconteceu em seguida, certamente deletei esse capítulo. Só sei que desse dia em diante as mulheres olhavam pra mim como a pequena órfã. A dor delas certamente foi muito, mas muito maior do que a minha. Chesa, Balú e Carú guardaram a tragédia como o grande segredo do fim do mundo de todos os tempos”, recordou.

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Em outro trecho do livro, Rita fala  sobre o que já viveu e as expectativas dos outros sobre ela. “Sei que ainda há quem me veja malucona, doidona, porra-louca, maconheira, droguística, alcoólatra e lisérgica, entre outras virtudes. Confesso que vivi essas e outras tantas, mas não faço a ex-vedete-neo-religiosa, apenas encontrei um barato ainda maior: a mutante virou meditante. Se um belo dia você me encontrar pelo caminho, não me venha cobrar que eu seja o que você imagina que eu deveria continuar sendo. Se o passado me crucifica, o futuro já me dará beijinhos. Enquanto isso, sigo sendo uma septuagenária bem‑vivida, bem‑experimentada, bem‑amada, careta, feliz e… bonitinha. Lucky, lucky me free again*. Tempo para curtir minha casa no mato, para pintar, cuidar da horta, paparicar meus filhos, acompanhar minha neta crescer, lamber meus bichinhos, brincar de dona de casa, escrever historinhas, deixar os cabelos brancos, assistir novela, reler livros de crimes que já esqueci quem eram os culpados, ler biografias de celebridades com mais de setenta anos, descolar adoção para bichos abandonados, acompanhar a política planetária, faxinar gavetas, aprender a cozinhar, namorar Roberto e, se ainda me sobrar um tempinho, compor umas musiquinhas.”

Rita Lee (reprodução Pintarest)

Moderna, irreverente e sem preconceitos, Rita também falou sobre sexo. “O casal de coelhos R & R continuava firme e forte. A graça era transar em locais inusitados, de banheiros de avião a praias desertas, de banheiras de espuma a escadas de incêndio, de elevadores de serviço a camarins de shows. Com essa bagagem erótico‑musical, partimos para um novo disco, o Lança perfume, a consagração total das nossas parcerias, cada vez mais autobiográficas. Éramos crème de la crème para voyeurs auditivos, com os sugestivos ‘me vira de ponta cabeça, me faz de gato e sapato, me deixa de quatro no ato, me enche de amor…’, ‘Misto-quente, sanduíche de gente, empapuçados de amor…’ e ‘Me deixar levar por um beijo eterno, mais quente que o inferno’. E assim caminhava a paixonite sem pudores de dois famintos diante de pratos cheios de sedução, mergulhados na gula da paixão.”

ABORTO

Nenhuma mulher faz aborto sorrindo. Cabe a elas, e somente a elas, a decisão de interromper uma gravidez, assim como de segurar sozinhas as consequências moral, espiritual e oskimbau. Me refiro ao ‘sagrado feminino’, de nós meninas que temos um buraco a mais no corpo para administrar, do nosso universo complexo demais para machos, religiosos e políticos meterem o bico, esses para os quais prevalecem mais o direito do feto que ainda nem nasceu ao da mãe que não deseja pari-lo por motivos que não nos cabe julgar, psicológicos, econômicos, neurológicos, até mesmo espirituais. (…) Aborto não é uma mutilação no corpo da mulher. (…) Parir e abandonar o bebezinho numa lata de lixo é criminoso. Parir e pôr para adoção é irresponsavelmente confortável. Parir e criar em condições sub-humanas é indigno.”

As drogas também fizeram parte de seu cotidiano. “Desembarquei no aeroporto de São Paulo com um mimoso colar de muitas voltas feito com ‘miçangas’ de pedrinhas de LSD coladas pacientemente uma a uma num cordãozinho de algodão. Dessa vez passei invisível pela alfândega. A ideia da nossa ‘família’ era vender a muamba, dobrar o capital investido e partir em nova aventura. Aconteceu que eu, a muambeira, consumi metade do estoque, a outra foi distribuída entre os frequentadores das festinhas de arromba na casa de Guarapiranga, point da crazy people da Pauliceia, com aquela cena manjada de gente desbundada amanhecendo pelos quatro cantos da casa. (…) Soube que muitos piraram de vez, tipo achar que é passarinho e se atirar do prédio. Hay que tener cojones para receber revelações espirituais e permanecer calmo. As ‘pedrinhas’ do meu tempo tinham zero anfetamina. Quando o psicodélico batia transformando a existência num caleidoscópio de consciência infinita, o ego despertava do mundo da ilusão dando de cara com o realismo fantástico do Higher Self, onde um mero grão de areia te explicava o omniverso. E você lá de alegre só sendo Deus. Aliás, desde que me decepcionei com religiões não sentia a presença do Divino tão acachapante. LSD não é para maricas materialistas.”

Mais recentemente, Rita Lee se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais em virtude o ex-Presidente da República, Jair Bolsonaro. Foram vários tuítes polêmicos escritos pela cantora, em 2011, sobre o candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) foram resgatados pelos internautas.

Nas publicações, a artista garante ter tido um caso com o político, mas, em seguida, ela mesma questiona a sexualidade do deputado.

“Bolsonaro e eu tivemos um caso. Ele não era muito chegado na coisa, se é que me entendem. Terminamos porque Bolsinho tava de olho num colega de classe”, escreveu Lee na época.

“Hoje, Bolsonaro vira a cara para mim. Deve temer que eu conte ao mundo seus segredos mais íntimos. Se continuar nesse ‘nhén nhén nhén’, eu conto mesmo”, acrescentou a intérprete de “Ovelha Negra” e “Caso Sério”.

Em abril de 2022, a cantora foi atacada após Astrid Fontenelle revelar que Rita apelidou o seu tumor de “Jair”, em possível alusão ao Jair Bolsonaro. Na época, exames não indicaram mais a presença de um tumor no pulmão da cantora, apontando a cura dela. 

Fato que não permaneceu, já que a artista faleceu e segundo informações ainda tratava da doença. 

Fique por dentro de tudo que está acontecendo no mundo da TV e das novelas acessando minha coluna no Observatório da TV, no link: www.observatoriodatv.uol.com.br/colunas/cintia-lima

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