OPINIÃO

Assistir ao MTV Miaw é como rolar o feed do Instagram

Premiação que reúne artistas, influenciadores e personalidades midiáticas em geral tem a cara do momento em que vivemos, mas peca na execução e nos detalhes

Publicado em 28/07/2022 21:45
Publicidade

Carregando...

Não foi possível carregar anúncio

O MTV Miaw, premiação da MTV para os principais nomes do entretenimento brasileiro, vem dando o que falar. O motivo é o modelo adotado pelo evento e a edição deste ano, realizada na última terça-feira (26/07), que, particularmente, gerou muitos comentários negativos entre público e artistas.

A onda de críticas ao MIAW, abreviação para MTV Millenial Awards, gerou outra onda: a de nostalgia, com as lembranças do icônico VMB, versão BR para o VMA (Video Music Awards). Aí, meu amigo, a conversa era outra.

Publicidade

Carregando...

Não foi possível carregar anúncio

O VMB surgiu em 1995 para ser, de fato, uma versão do prêmio dado pela MTV norte-americana aos melhores clipes do ano. Com o passar do tempo, assim como o braço da emissora em solo brasileiro, o evento ganhou uma cara própria e um jeito de ser feito, se destacando da versão organizada pelo ‘país sede’ do prêmio.

A principal característica do VMB era sua diversidade, algo que falta no MIAW. E quando digo ‘diversidade’, não estou me referindo a criar uma categoria ‘ícone do vale’ para premiar separadamente personalidades da comunidade LGTQIAP+. ‘Diversidade’ para o VMB era fomentar a música em um espaço coletivo, trazendo novidades para o público, parcerias entre artistas que seriam, até então, impensáveis. Misturar Pepê e Neném, Sepultura, Caju e Castanha, Fresno e Caetano Veloso na mesma festa. E, diga-se de passagem: eram todos devidamente convidados, ok? Fica aí a crítica.

Carlinhos Brown e Paralamas do Sucesso, Wanessa Camargo e JaRule, Pitty, Valesca Popozuda, Restart, Titãs, Nação Zumbi, Gaby Amarantos, Art Popular, Nx Zero e muitos outros artistas de diversos gêneros subiram ao palco do VMB, representando na prática a pluralidade da música brasileira.

Gaby Amarantos, premiada como artista do ano no VMB 2012, última edição do evento (Priscilla Castilho/VEJA)

Com essa brasilidade intensa, o VMB já rendeu grandes momentos de reflexão, diversão e entretenimento para o público brasileiro. Caetano Veloso, por exemplo, entrou para a história ao criticar a equipe técnica da MTV, durante sua performance na edição de 2004. Devido aos erros técnicos constantes, o músico soltou a seguinte pérola:

“Pessoal da MTV (leia EMETEVÊ), vergonha na cara. Vamos começar de novo, e bota essa ‘porra’ pra funcionar direito”. Após alguns blocos, Caetano pôde cantar sem grandes imprevistos técnicos. Confira o momento emblemático:

Esse era o grande barato da MTV. A liberdade era algo extremamente natural. Críticas e autocríticas eram recorrentes e faziam parte da essência alternativa do canal. Vale lembrar que a MTV Brasil passava durante os intervalos comerciais uma chamada que dizia: “Desligue a TV e vá ler um livro”. Uma emissora de televisão mandando desligar a televisão.

Em 1998, por exemplo, o VMB promoveu uma roda de samba que contava com nomes como Martinho da Vila, Bezerra da Silva, Mart’nália e um jovem Marcelo D2. No mesmo ano, os Racionais MC’s faziam uma performance histórica no palco da premiação. É simbólico imaginar que, apesar de formarem o maior grupo de Rap da música brasileira, Mano Brown e companhia não eram figurinhas carimbadas da TV aberta. Só na MTV, e ainda assim não com a frequência merecida, a mensagem dos Racionais adentrava as casas através da telinha.

Isso ainda é pouco para explicar o quão efervescente era o VMB. Um prêmio que reunia anfitriões como Fernanda Lima, Pedro Cardoso, Marcos Mion, Cazé Peçanha, Regina Casé, Marcelo Adnet, Anderson Silva, Selton Mello, Daniella Cicarelli e muitos outros para anunciar os indicados e vencedores da premiação.

A diferença entre MIAW e VMB

Na realidade, não há nem como comparar o MTV MIAW com o VMB. Não é arrogância, mas, sim, um lamento pelo fim da MTV que conhecemos, que culminou na MTV de hoje em dia. Enquanto uma premiação era importante para ditar tendências, a outra se torna refém delas.

No último VMB realizado, em 2012, a artista do ano foi Gaby Amarantos, levando seu tecnobrega aos holofotes e se fazendo respeitada por uma música autêntica, com características regionais, sem deixar de ser um som aceito de maneira nacional. Dez anos depois, artistas concorrentes ao MIAW sequer receberam os convites. Outros não foram devidamente acomodados no evento, que parece girar em torno dos mesmos personagens e da mesma atmosfera. Desde 2018, todas edições do prêmio da nova MTV parecem as mesmas. Assistir ao MIAW é como rolar o feed do Instagram: uma enxurrada de mesmices.

Publicidade

Carregando...

Não foi possível carregar anúncio