Bárbara Sut comenta experiência vivendo a intensa Sônia em “Amor Perfeito”

Sucesso como Márcia na comédia “A Sogra Que Te Pariu” (Netflix), a multiartista pode ser ouvida também nas plataformas digitais com o álbum “Calor”

Publicado em 07/06/2023 23:46
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A arte sempre esteve no sangue de Bárbara Sut. Sucesso absoluto como Sônia, a sofrida e densa personagem de “Amor Perfeito”, folhetim das 18h da TV Globo, a atriz brilha também como Márcia na sitcom “A Sogra Que Te Pariu”, na Netflix e como Sara X, no longa-metragem de suspense “Medusa”, exibido em festivais renomados como a Quinzaine des Realisateurs, em Cannes e agora está disponível em streaming. Na arte há 17 anos, Sut cresceu em meio a palcos e coxias, esboçando também seus primeiros versos e notas musicais ainda na infância. Interpretando papéis trágicos no teatro, como Julieta em “Romeu e Julieta – ao som de Marisa Monte”, a dramaticidade é uma marca importante do trabalho de Sut, e Sônia traz essa face agora para o audiovisual.

Sônia transborda amor, dor e paixão em sua busca por afeto enquanto guarda segredos sobre seu duro passado. “Por um lado, uma mulher atormentada por fantasmas e pela dúvida em revelar ou não a verdade sobre sua história para Marê (Camila Queiroz); por outro, uma jovem solar que se lança na tentativa de criar algum futuro com Júlio (Daniel Rangel) e finalmente ser amada”, conta Bárbara.

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Desde os testes, “Amor Perfeito” foi uma grata surpresa. Admiradora do trabalho de Duca Rachid, a atriz se interessou pela possibilidade de participar de uma novela da autora, especialmente quando soube que o projeto teria direção artistica de André Câmara, diretor com quem já havia trabalhado em 2014 no musical “Rebouças – O engenheiro negro da liberdade”.

A arte sempre esteve presente em sua vida. Como você descreveria a influência da arte em sua trajetória pessoal e profissional?

Eu sinto que a minha forma de ver o mundo é totalmente atravessada pelo meu fazer artístico e pelas referências que me nutrem como artista. Desde muito pequena era uma certeza que eu queria trabalhar com isso, ser uma artista e acredito que para as pessoas ao meu redor era claro que eu já era uma artista. Mas mais que uma escolha profissional, a arte é uma forma muito especial de elaborar minhas emoções e pensamentos, de lidar com os desafios e delicias que surgem. Então, certamente eu tenho sido guiada e escorada pela arte em todos os âmbitos da minha vida.

Você interpretou a personagem Sônia em “Amor Perfeito”, uma novela de grande sucesso. Pode nos contar sobre os desafios e a intensidade de dar vida a essa personagem tão densa?

Interpretar a Sônia é um desafio constante porque vou descobrindo mais sobre a personagem enquanto a faço, já que a novela é uma obra aberta. Então, estou o tempo todo me surpreendendo com novas nuances, novas possibilidades e acho instigante me entregar a esse processo, me arriscar. Como atriz, é uma alegria interpretá-la, porque são muitas as cenas densas, românticas, cômicas, enfim, há um colorido do personagem que permite passear por diferentes caminhos e emoções, mas isso exige uma inteireza, uma concentração no momento presente para que nada passe à toa, especialmente com a agilidade que a televisão exige. Sinto que parte do desafio é manter essa disciplina e parte é não me exigir além da conta, encontrar o equilíbrio justo para seguir tendo autenticidade.

Bárbara Sut (Foto: Divulgação)

A intensidade é uma marca registrada em seus papéis. Em que aspectos você se identifica com a personagem Sônia e como você busca se distanciar dela?

Realmente, eu já fiz algumas personagens bastante intensas, como Julieta, em Romeu e Julieta – ao som de Marisa Monte. É um prazer fazer personagens assim, porque o personagem se torna uma catarse de algo que a gente está trazendo pra cena de alguma forma. Eu sinto que essa forma apaixonada de viver e se relacionar é algo que temos em comum. E me parece que a Sônia passa durante a trama por um processo de amadurecimento no olhar consigo que é algo com o que me conecto, porque sinto que já passei por esse processo. É bonito ver o caminho que os autores estão construindo pra que ela se cure das dores do passado e encontre o amor próprio.

“Amor Perfeito” proporcionou um encontro especial com o elenco. Como foi essa experiência de construir uma relação familiar com seus colegas de trabalho?

Sinto que temos um elenco muito especial. Todos se dão muito bem nos bastidores, é um clima festivo e amigável que transborda para a cena e torna essa cidade de São Jacinto crível e interessante. Uma coisa que acho muito bacana é que esse elenco foi pensado para colocar em relação diferentes experiências, o que enriquece muito o trabalho. Metade dos personagens é interpretada por atores e atrizes negros; temos profissionais de diferentes regiões do Brasil e com experiências profissionais variadas. É bonito ver a generosidade e o prazer da escuta em todos. Quem está a mais tempo na TV, dando dicas da relação com as câmeras; quem canta, estimulando os colegas nas cenas cantadas; quem vem do teatro, também fazendo proposições de cena. Os mineiros partilhando nuances do sotaque, quem é do Rio acolhendo quem veio de fora para gravar a novela. Enfim, temos uma troca constante e muito marcada pela generosidade e admiração mutua.

Bárbara Sut (Foto: Divulgação)

É notável que as três principais novelas da Globo apresentam protagonistas pretos. Qual é a importância desse marco para você como artista negra?

É claro que um marco assim é relevante para nós negros, até por apresentar um horizonte de mais representatividade, auto-estima e inserção no mercado de trabalho. É algo pelo que muitas gerações lutaram e lutam, uma conquista coletiva. Mas sinto que a importância desse momento é para a sociedade como um todo. O racismo é uma violência muito enraizada no Brasil e que contamina as relações. Ter protagonistas negros e indígena em novelas, ter diversidade no elenco e na equipe, escrever novas narrativas é urgente não apenas para a vida dos negros, mas também para a vida dos brancos, para que todos se comprometam cada vez mais e se tornem agentes de um outro futuro possível. Sinto que esse marco é mais uma contribuição para a construção de um novo imaginário para todos a respeito das contribuições dos negros para a sociedade; para a desconstrução de estereótipos raciais; é um convite para que a gente analise de forma crítica situações e contextos para além das telas. Eu espero que as histórias que estamos contando, da forma como estamos decidindo contar gerem mudança, movimento.

Além de sua atuação, você também é conhecida por sua carreira musical. Seu álbum “Calor” é um sucesso. Como foi o processo de criação desse trabalho e quais foram suas principais influências musicais?

Calor é um projeto que lancei em 2022, mas cuja produção teve início ainda em 2020, durante a pandemia. O álbum é composto por dez canções autorais (duas delas feitas em parceria com amigos) que têm referencias e histórias muito particulares. Eu comecei a compor em 2017, de forma não muito organizada. As músicas saíam em momentos de inspiração ou a partir de situações que vivia e que me impeliam a escrever e cantar e, assim, cada uma tem referências que conversam com o momento da composição. Por exemplo, Valsinha (La Petite) é uma valsa com forte referência à chanson française: eu a compus a partir de uma brincadeira quando estava apaixonada por um francês e tinha acabado de retornar ao Brasil depois de um período na França. Vendaval, que tem o dedilhado mais virtuoso, eu compus em uma noite insone quando comecei a fazer aulas de violão e estava exercitando os dedos. O álbum costura todas essas referências com uma sonoridade acústica, intimista e intensa, que me lembra arranjos de alguns álbuns do Chico Buarque e da Mayra Andrade, que certamente é uma referência vocal assim como Gal costa, Edith Piaf e Elis Regina.

O lançamento desse álbum de forma independente é uma das minhas grandes realizações profissionais e um dos meus maiores empreendimentos artísticos, já que eu compus as músicas, produzi o álbum e estive envolvida com outros profissionais em praticamente todos os processos para que esse projeto se realizasse dessa forma.

Você teve diversas experiências na TV Globo ao longo dos anos. Pode nos contar sobre algumas delas e como elas contribuíram para o seu crescimento como artista?

O meu primeiro contrato com a Globo foi na primeira temporada do talkshow Adnight, apresentado pelo Marcelo Adnet, em que a ideia inicial era ter uma trupe de artistas que fizessem flashs performáticos durante as entrevistas. Como era um programa novo, ainda estavam entendendo o formato e experimentando ideias, então tínhamos muito tempo livre e podíamos circular por todos os setores, fizemos até um treinamento de efeitos especiais, aprendemos muito. Nos bastidores desse trabalho, eu comecei a estudar francês. Nos momentos de espera, sempre estava praticando com a minha gramática e quando o contrato terminou, resolvi passar uma temporada na França com o dinheiro que recebi. Foi maravilhoso, porque realmente aprendi a língua e fiz um estagio com o pessoal do Theatre du Soleil, que é uma das companhias de teatro que eu mais admiro. Foi uma jornada profissional e pessoal super interessante e importante pra mim, um marco na minha vida, e quando voltei ao Brasil não parei mais de trabalhar. Fiz alguns musicais, algumas participações em novelas e series da Globo e então passei para Salve-se Quem Puder em 2019, que foi minha primeira experiência fazendo uma novela inteira. Sinto que em cada trabalho, dentro e fora da Globo, pude me aprimorar como artista e usar essas experiências para abrir outras portas interessantes que me potencializam.

Em “A Sogra Que Te Pariu”, você atuou ao lado de Rodrigo Sant’anna em um sitcom na Netflix. Como foi o desafio de fazer comédia e conquistar um público maior?

Foi muito especial. Esse é um projeto que me alegra e orgulha demais. Precisei me acolher e me levar menos a sério para fazer a Márcia e percebo como isso foi importante inclusive pra minha vida pessoal. Eu sempre fui engraçada, mas de repente ser contratada para estar em um projeto entre outras coisas, por essa característica, me fez dar mais valor a isso que eu fazia naturalmente e querer aprimorar os tempos, as escolhas. Foi um grande aprendizado, porque todos no elenco eram muito generosos, a gente tinha uma troca muito legal, realmente viramos uma família. E cada um tinha seu jeito de estar em cena, de contribuir para a história e isso era muito rico. Sou muito reconhecida na rua como a Márcia da Sogra que te pariu e percebo que o público se identifica com essa família e as relações apresentadas na série. É uma sensação maravilhosa fazer parte disso.

Você também atuou em seu primeiro longa, “Medusa”. Como foi essa experiência no cinema e quais são seus planos futuros nessa área?

Medusa é um suspense que fala sobre o fanatismo religioso no Brasil e a opressão da mulher nesse contexto. Ele mostra um grupo de meninas que se tornam justiceiras em prol da moral e dos bons costumes. Eu interpreto a Sara X, que é uma das vítimas desse grupo, mas consegue reagir ao ataque e acaba ferindo a protagonista, que é vivida pela Mari Oliveira, no rosto. É por causa dessa ferida – e da cicatriz que a ferida gera – que a protagonista entra em uma jornada crítica aflitiva. O longa foi dirigido e escrito pela Anita Rocha da Silveira, que eu acho uma artista incrível, e já fez um percurso bem interessante – e premiado – por diferentes festivais ao redor do mundo, inclusive pela Quinzaine des Réalisateurs, do Festival de Cannes.

Foi uma alegria fazer parte, porque é um projeto que eu acho muito corajoso e que teve repercussão mundial. Além disso, foi uma experiência com cinema, que é algo de que eu gostaria de me aproximar mais. Eu já tinha protagonizado um curta chamado Alderão em 2014 e uma adaptação para o audiovisual da peça Romeu e Julieta – ao som de Marisa Monte (2018) que ficou em cartaz em diversos cinemas pelo Brasil, mas certamente espero ter mais experiências na área.

Além de suas atuações na TV e no cinema, você está envolvida em outros projetos artísticos no momento? Pode nos contar um pouco sobre eles?

Sim. Participei de um documentário musical sobre Dolores Duran, chamado Dolores: O coração da noite, como entrevistada e intérprete e essa semana tive a feliz notícia de que esse projeto foi selecionado por um festival internacional e será exibido em alguns cinemas de São Paulo. Além disso, estou gravando o meu primeiro audiolivro e é uma história muito bacana, muito bem escrita. Estou muito animada com esse novo desafio, já que nunca tinha feito algo nessa linguagem. Mas ainda não posso falar muito sobre esse projeto.

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