Olhar Investigativo

Com uma nova roupagem, Diego Rates explora evidências em novo livro

Inspirado por clássicos de autores Franz Kafka, Dostoievsk e Haruki Murakami, “Os Diálogos de Uma Cena de Crime” antropomorfiza evidências de crimes

Publicado em 06/07/2022 10:38
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Se uma história de amor é contada no clássico espanador, caneca, bule e relógio de parede de A Bela e a Fera, o autor Diego Rates explora uma nova narrativa em sua mais nova obra “Os Diálogos de Uma Cena de Crime”, onde objetos da cena de um crime ajudam a narrar um caso de assassinato.

Nesse universo misterioso e mágico, armas, impressões digitais, objetos deixados para trás e o cadáver adquiriram a identidade de testemunhas da execução. Todos esses adereços antes inanimados demonstram que guardam bastantes relatos em suas personalidades distintas e as diferentes perspectivas sobre o que realmente aconteceu promovem conversas hilárias e mórbidas, causando uma verdadeira mistura de sentimento.

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Com inspiração em obras de autores consagrados, tais como Franz Kafka, Dostoievsk e Haruki Murakami, Rates faz de sua obra um verdadeiro exercício criativo. Apesar de uma história lúdica e bem-humorada, a narrativa explora temas relevantes como a ineficiência do sistema policial e a falta de recursos para a investigação e resolução de crimes.

Técnico de Informática, Diego Rates de 22 anos, é um apaixonado por literatura. Inspirado pela obra de Machado de Assis escreveu seu primeiro livro “As Últimas Memórias de um Morto-Vivo”. Confira a entrevista!

Com um ar bastante investigativo e ao mesmo fantasioso, “Os Diálogos de Uma Cena de Crime” explora uma ocasião onde as evidências de um assassinato acabam por protagonizar essa narrativa. Como foi o processo para conseguir chegar nesse enredo?

O que considero ter sido o primeiro passo foi o fato de que eu queria utilizar essa narrativa para praticar minha escrita de diálogos. O local onde eu estava trabalhando na época, terceirizado na Superintendência da Polícia Federal, foi fundamental para o gênero e estilo da narrativa. Como eu sempre quero trazer visões diferentes e tentar também trazer algumas novidades para a literatura, eu busco construir uma história com pontos de vista novos, em situações inusitadas, com algumas reflexões interessantes sobre temas atuais, assim como reflexões sobre as próprias regras de estrutura narrativa. O que considero o maior trunfo de minha segunda obra foi a forma que abordei a metalinguagem, subvertendo as expectativas dos leitores em momentos chave.

Durante a obra, um fato curioso sobre o desenrolar dos acontecimentos, é que objetos inanimados como uma arma e um cadáver, passaram a ser testemunhas oculares dessa execução. A respeito da escolha pela utilização dessa fantasia, você como autor acredita no fato de que as vezes os objetos possam dizer muito mais de uma história do que os próprios personagens de carne e unha em si?

Absolutamente sim! Toda cena de crime conta uma história, e muitas vezes essa história é contada principalmente pelos objetos que são deixados acidentalmente e algumas vezes até propositalmente, para poder mudar os rumos de uma investigação. E vai além do contexto do evento de um crime em si. Uma das análises que tiro de minha própria obra, veio da principal dificuldade que tive com essa narrativa; como eu iria fazer para as pessoas se conectarem com objetos inanimados, como as evidências de um crime?

E foi então que eu percebi que os seres humanos não tem dificuldade com essa questão. O melhor exemplo que posso dar em relação a isso são os nossos celulares. Muitas pessoas tem um apego maior ao seu telefone do que com outros seres humanos. Isso acaba gerando muitas situações absurdas onde vemos pessoas completamente desconectadas da realidade fazendo comentários absurdos sobre assuntos extremamente complexos, pois o próximo vale menos do que os objetos que possuímos.

Uma característica bastante evidente nos diálogos que rolam durante a narrativa é justamente a mesclagem do um tom mórbido característico com o humor. Acredita que justamente pela presença desses dois elementos que deixam de ser opostos, seja o que promova uma nova essência como diferencial?

Considero que a união desses elementos contribua intimamente para a criação da atmosfera da narrativa que propus, e também existe a questão de que nesse cenário caótico e inusitado onde as evidências de um crime ganham vida e começam a interagir entre si, o humor se torna uma excelente ferramenta para colocar um tom mais leve na narrativa e permitir momentos em que a trama não se leva tanto a sério.

E por fim, ao inserir esses momentos mais leves na trama, acredito que os momentos mais intensos tenham ficado ainda mais… intensos! O contraste de momentos extremamente cômicos que transitam até o extremamente trágico foi uma das principais características que quis incluir nessa narrativa.

A respeito das histórias de mistério, além do seu conto, o mundo tem uma grande legião de fãs, principalmente através de clássicos da literatura, como Sherlock Holmes de Sir Arthur Conan Doyle. O que mais o atraiu para trabalhar com esse estilo de história?

Foi principalmente o fato da existência dessa legião de fãs. Como esse é um tema que possui muitas pessoas interessadas, desde que o mundo é mundo, eu quis me propor a escrever uma história utilizando o gênero de mistério como pano de fundo. E esse tema existe há muito tempo e já foi trabalhado por autores simplesmente brilhantes e geniais, como o próprio Conan Doyle, Agatha Christie, Thomas Harris, entre outros. Tudo isso acaba gerando um grande círculo de influências que definem características consideradas fundamentais para se escrever uma boa história no gênero.

Como me considero um autor mais experimental, eu quis tentar fugir dos padrões do gênero, mas ainda sempre trazendo referências as obras incríveis que vieram antes da minha. Trazendo um ponto de vista tão radicalmente diferente, eu tento compor uma história que se torna especial para o leitor, além de ser uma espécie de carta de amor ao próprio gênero e em especial a figura do escritor por trás das obras e o papel que eles desempenham em suas escritas de maneira “invisível”, sendo os “Mestres dos Fantoches”.

Diego Rates (Foto: Divulgação)

Falando um pouco mais sobre o processo de escrita da obra, como foram os seus pontos de partida para começar a escrever as primeiras linhas do livro?

Eu sempre parto do princípio de que nos tempos de hoje a história precisa ter um início com o maior impacto possível, para engajar o leitor e o fazer ter interesse em ler a obra até o final, porque nos tornamos seres com uma capacidade de foco bastante reduzida, graças ao desenvolvimento das tecnologias e do imediatismo em que vivemos. Dessa forma, eu uso a minha primeira página para criar uma espécie de introdução para a narrativa, para já na segunda página subverter as expectativas do leitor, o surpreendendo e mostrando de cara a “carta” de que a obra que estão lendo é muito diferente do que eles imaginavam que seria, mas de forma positiva. Daí, uso a curiosidade do leitor para o manter engajado na estranha e surpreendente aventura narrativa que desenvolvi.

Mesmo que de forma bem humorada, “Os Diálogos de Uma Cena de Crime” mostra também uma crítica a respeito da ineficiência do sistema policial e da falta de recursos na investigação e na resolução de crimes como assassinatos e outros que ocorrem. Como foi a introdução dessas mensagens na história e como é o seu posicionamento sobre essa realidade?

Para minha segunda história eu quis trabalhar com um conceito mais aberto de roteiro, utilizando como inspiração para o tema da obra o local onde eu trabalhava, portanto eu fui deixando as ideias fluírem à medida que eu ia escrevendo, trazendo novos elementos, novos comentários, novas cenas e assim sucessivamente.

A forma que encontrei de demonstrar meus posicionamentos e visões sobre o sistema investigativo, assim como o sistema judiciário e algumas das suas ineficiências e injustiças, foi através dos meus personagens e a forma que a trama foi sendo construída, trazendo também inspiração da obra “Crime e Castigo”, de Dostoiévski, obra que me marcou profundamente.

Comentando um pouco sobre a carreira em si, atualmente você tem 22 anos e já teve seu primeiro livro lançado que foi “Às Últimas Memórias de um Morto-Vivo” e prepara agora a publicação do inédito “O Homem e a Cópia”. Como foi que a literatura chegou a fazer parte da sua vida profissionalmente e o que podemos aguardar desse próximo lançamento?

Minhas primeiras duas obras foram exercícios narrativos que me propus a realizar como uma forma de desenvolver minha habilidade de escrita. O “Memórias” traz um apocalipse zumbi, onde o zumbi é quem conta a história. Nessa história, eu desenvolvi minha habilidade de desenvolver personagens, com foco principal no protagonista, para trabalhar seu carisma. Já na segunda obra, eu me propus a desenvolver diálogos, então trouxe essa narrativa bastante experimental e metalinguística.

Sobre a terceira obra, eu me propus a trabalhar uma narrativa com um terror psicológico, usando como base um elemento bastante presente em nossas vidas, as nossas redes sociais e a maneira que nos portamos nelas. Muitas vezes colocamos máscaras para podermos fingir sermos pessoas melhores nesses ambientes virtuais, mais felizes, com uma vida melhor, mais perfeita, então eu uso essa narrativa para mostrar os impactos psicológicos que isso pode ter na vida de uma pessoa. Pretendo realizar o lançamento da minha terceira obra em conjunto com uma versão em quadrinhos, que se interliga com o livro no formato de romance. Vai ser um projeto bastante ambicioso.

Quais os conselhos que você dá e o que o público poderá esperar contemplar ao escolher visitar as páginas de “Os Diálogos de Uma Cena de Crime”? Acredita que a visão do público sobre os mistérios poderá se transformar?

A experiência com o “Diálogos” vai surpreender tanto o leitor que já é grande fã do gênero de mistério, quanto leitores que não leem tantas histórias com esse pretexto, por trazer características muito diferentes de outras obras, também pegando uma forte inspiração do realismo mágico trabalhado de forma brilhante por escritores como Kafka e Murakami. Além disso, a história traz personagens bastante inusitados e ao mesmo tempo envolventes e cômicos.

E como a obra trabalha a questão da metalinguagem e de estruturas narrativas para criar as reviravoltas, acredito que alguns leitores podem passar a enxergar as narrativas de maneira diferenciada, enxergando alguns padrões narrativos e a maneira que o escritor trabalha os mistérios da narrativa.

Ficha técnica

Título: Os Diálogos de Uma Cena de Crime
Autor: 
Diego Rates
Editora: 
Flyve
ISBN/ASIN: 
978-6500382365
Páginas: 
88
Preço
: R$ 34,00
Onde comprar: 
Amazon

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