Segredos do YouTube

Natália Kreuser e seus 12 anos de jornada na internet

Desde que ingressou na internet através do Orkut, a criadora de conteúdo já atravessou diversos nichos no YouTube e hoje comunica sobre o universo de cultura pop para mais de 550 mil inscritos

Publicado em 25/07/2022 22:45
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Quem acessa o youtube.com e passam horas e horas maratonando os vídeos de seus canais favoritos, muitas vezes não fazem ideia de quanto estudo e ciência que marcaram as trajetórias daqueles que mesmo que virtualmente sabem como nos divertir e nos manter entretidos em seus mais diversos tipos de conteúdo. Saiba, porém, que para que esses vídeos exatos cheguem até você, é preciso sempre muita batalha.

Estamos iniciando a história da criadora de conteúdo Natália Kreuser ainda em meados de 2010, quando a plataforma desenvolvida pelo trio Jawed Jarim, Chad Hurley e Steve Chen aterrissava pela primeira vez ao Brasil e os primeiros curiosos decidiam começar a se gravar para se apresentarem para aquele cenário até então inóspito.  Em questão de poucos anos, diversos nichos passaram a aparecer, e entre eles, o de Natalia Kreuser, que era ligado aos vlogs e cultura pop, os principais elementos presentes em sua vida. Na entrevista de hoje, nós convidamos vocês a conhecerem um pouco mais dos bastidores dessas produções e de como a criatividade e o olhar diferenciado foram essenciais para que Natalia se tornasse um dos grandes destaques desse segmento aqui no Brasil. Confira a entrevista!

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Sucesso na internet com vídeos que chegam a atingir milhares de visualizações, o seu canal começou a sete anos onde você gravava alguns vlogs onde contava curiosidades e o seu cenário era o próprio quarto. Você se recorda de como foi à ideia de entrar na plataforma e como foram os seus degraus até hoje?

Comecei a gravar vídeos em 2010 e na realidade daquela época a gente nem imaginava como profissão. Eu já era bem ativa no Orkut desde 2008 e nessa época, eu tinha alguns perfis que eram fakes de fã, para deixar bem claro que era perfil de fã e tal, e eu lutava perfis e os fakes mais famosos. Numa época eles tiveram tipo um vazamento dos ossos, que era como a gente chamava as pessoas reais por trás dos fakes, aí as pessoas começaram a fazer fakes de mim e começaram a me adicionar no meu perfil, e eu comecei a criar perfis de desconhecidos para as pessoas que tinham interesse em mim. Na época, eu cheguei a fazer três perfis e em paralelo a isso eu consumi muito YouTube, eu assisti alguns canais como Ijustine e o Shane Dawson, e aqui no Brasil tinha o Guilherme Zaiden, que viralizou com alguns vídeos como “Confissões de um Emo”, então eu sempre acompanhei muito essa parte da internet. Quando veio esse movimento em 2010 para o Brasil, foi quando comecei a fazer vídeos com esse formato de vlog. Utilizei esses perfis do Orkut que eu tinha para divulgar meus vídeos, então, na época, eu tinha uma quantidade relativamente boa de visualização para quem etava começando. Então, foi um canal que acabou se destacando e também poucas pessoas faziam vídeos naquela época, então, meio que todo mundo sabia quem tava fazendo vídeo no YouTube Brasil, e com o passar do tempo começaram a existir conteúdos mais inchados. Ainda em 2012, eu fiz o meu canal de games, só que ele ia além do que a paixão por criar o conteúdo, porque era mais complexa a demanda de vídeos, era muito maior que os vlogs.

Eu fazia um vídeo por semana, e no de game, já era um negócio muito mais frenético. Se não me engano, já tinha alguns canais que fazia quase que conteúdos diários, bem comum hoje em dia. Eu não tinha condições de tempo, porque na época eu trabalhava numa loja e o meu computador não era dos melhores para jogar alguns jogos, então tinha alguns que nem rodava. Eu não tinha console porque era caro, então, eu jogava muito quando eu ia para a casa do meu primo. Acabou que foi um conteúdo que eu não conseguia dar muita conta e que por muito tempo, eu fiquei com o vlog conciliando com o canal de games e também trabalhando na loja, mas com o tempo também foi ficando inviável essa questão, tanto que parei meu canal lá para 2014/2015. Em 2013, eu cheguei até a ter um blog de filmes e séries que era na intenção de falar de uma forma mais acessível, porque todos os conteúdos de filme que eu via de uma forma geral eram muito técnicos, mas de novo, eu estava fazendo muita coisa.

Abandonei o blog ainda com pouquíssimas postagens, mas retornei com essa linguagem para o meu vlog lá para 2014, também trazendo essa forma mais acessível de falar, como uma dica mesmo. Eu sempre falei de séries porque o meu blog de uma forma geral, ele era sobre a minha vida e sobre as coisas que eu fazia e que eu gostava, então eu chegava em casa do colégio, assistia à série, almoçava assistindo série… Então, sempre foi algo que fez parte da minha vida. Eu falava das séries como uma dica realmente, como se fala para um amigo assistir à série e foi muito legal. Acredito que esse é o ponto essencial do que o canal é hoje e lá em 2016, como eu estava só com canal de vlog, eu senti que realmente precisava deixar ele isso, já era algo que tinha no YouTube, mas eu tinha muitos assuntos, porque mesmo que eu não fizesse o canal de games, ainda assim ou ainda trazer alguns conteúdos de jogos falando de jogos, porque de novo, o vlog ele sempre foi sobre as coisas que eu gostava. Todas essas coisas, elas sempre estiveram ali e eu decidi fazer um projeto que englobava todas as coisas que eu gostava com vídeos diários e o que eu pensasse que iria ser melhor ou que eu desenvolvesse de alguma forma, seria o conteúdo do canal de uma forma geral.

Eu decidi que seria um canal focado em filmes e séries, a partir disso, eu fui atrás para fazer um curso de cinema, depois de alguns anos eu também fiz alguns cursos de roteiro, e eu sempre me mantive estudando e o conteúdo sentiu isso também. Como falei a ideia sempre foi que ele fosse um conteúdo acessível, então, é importante entender sobre a técnica, mas ainda assim, se comunicar de uma forma mais abrangente. Porém, lá em 2016, eu estava entrando no mercado que já estava consolidado, já existiam canais de filmes e séries de uma forma geral, então, eu sabia que eu precisava ter um diferencial, sabia que as pessoas não necessariamente queriam minha opinião como crítica de um filme ou de uma série, e eu percebi existir um espaço para falar mais sobre os filmes e as séries. A partir daí entraram esses conteúdos de teoria, análise de trailer, os explicados e com o passar dos anos isso foi se desenvolvendo.

Com o crescimento, eu criei alguns projetos, por exemplo, cobertura, as maiores sobre determinada séries, como fiz recentemente com a cobertura de “Stranger Things”, “Euphoria”, falando semanalmente sobre a série…  Então, não só fazer um vídeo sobre determinada série, sobre determinado filme, mas fazer diversos e abrange essa discussão além da crítica.

Eu realmente não pensava que as pessoas iam querer a minha opinião, por que já existiam alguns canais de filmes e séries muito bem consolidados no YouTube, e eu como uma pessoa que consome filmes e séries, eu gosto de conversar sobre, então acredito que esses conteúdos sejam justamente o atrativo para as pessoas como eu que gostam de séries, de discutir sobre elas e às vezes pontos específicos, e os meus vídeos eles abraçam todas essas discussões.

Natalia Kreuser (Foto: Reprodução/Instagram)

Atualmente, o YouTube é uma das maiores plataformas de vídeo do mundo, tirando os streamings fechados como Netflix e Amazon Prime, e com o passar do tempo ele foi se tornando cada vez mais a profissão de muitas pessoas. Lá em 2014, você já imaginava que um dia poderia viver do seu conteúdo ou ter uma base de público tão grande?

Como uma pessoa que começou em 2010, eu jamais imaginava o YouTube como uma profissão, até porque fiquei 1 ano criando conteúdo sem ganhar absolutamente nada. Tinha vídeos muito variados, alguns até que era de passeios na escola, e tudo isso fazendo conteúdo sem ganhar dinheiro. Eu não tinha o AdSense na época, ou seja o meu conteúdo não era monetizado, e mesmo quando passei a receber, ele nunca foi equivalente a um salário. Eu só comecei a me dedicar 100% do tempo ao YouTube em 2018 e ainda assim, nesse ano ele foi uma aposta que deu certo. Nunca imaginaria que eu me comunicaria com meio milhão de pessoas ou mais que isso, ainda é muito surreal pensar nisso, tipo, quando um vídeo meu atinge 50 mil acessos, e você visualiza que isso é o equivalente a um estádio de futebol cheio, é surreal pensar nisso.

Onde há carreira, também há competição, e isso vem sendo bastante válido em relação a velocidade e a qualidade de conteúdo que os criadores tem feito tanto no YouTube como em outras redes sociais, como TikTok e Twittch. Nessa questão, como costuma funcionar uma rotina sua de produção durante a semana? Teve algum vídeo ou conteúdo especifico que demandou um esforço maior durante a elaboração?

Como criadora de conteúdo, eu costumo ler cada plataforma de uma forma diferente. O TikTok, por exemplo, eu utilizo como um conteúdo bastante complementar ao que já faço no meu canal, principalmente para falar de notícias que muitas vezes acabo citando nos meus vídeos, então acaba sendo um conteúdo mais fácil de criar. Porém, no YouTube, cada título e cada obra vai ser trabalhado de uma forma diferente.  Muitas vezes a ideia vem quando estou assistindo ao filme ou aquela série, então sim, dependendo até mesmo da complexidade daquela obra, ele acaba sendo um conteúdo mais elaborador. Um exemplo disso foi o “Stranger Things”, onde fiz um vídeo recentemente comentando sobre a evolução dos monstros da série.

Realizei um trabalho de pesquisa que ia desde a primeira temporada, tais como os efeitos visuais que utilizaram na primeira e como isso evoluiu até a última, estamos falando de um arquivo de entrevistas antigas que vem desde 2016, considerando o tempo de internet, ou até mesmo quando tive a oportunidade de fazer a entrevista com o Labrinth, que fez toda a parte da trilha sonora de “Euphoria”, eu quis fazer um vídeo especial para encaixar essa entrevista. Ele acabou sendo um vídeo todo trabalho em cima da trilha sonora em que toda ela também funcionava como uma forma narrativa da série, então as minhas perguntas para ele também foram focadas nisso. Toda entrevista foi moldada dentro desse vídeo e nele eu ainda trazia mais curiosidades e questões sobre a trilha sonora da série. Então, alguns vídeos acabam tendo um trabalho de pesquisa e técnica muito maior.

Antes de estar em seu projeto atual, você ficou conhecido por certo público através do vlog “Kreuser tipo Freud”. Que lembranças guarda dessa época e a partir de qual momento a linha do seu conteúdo foi migrando para as produções?

O “Kreuser tipo Freud” sempre foi o meu vlog, porque eu sempre o usava para explicar a entonação do meu nome que se fala “Kroiser”, e o conteúdo dele sempre foi com questões do meu dia a dia e coisas que eu consumia, assim como eu comentei que sempre almoçava assistindo séries. Eu sempre falei sobre elas e elas sempre estiveram no meu canal.

Tinha outro aspecto também que era de eu amar assistir ao Oscar com a minha irmã, então era meio que a nossa tradição, então no final das contas, eu sempre estive nesse universo meio que indiretamente, porém, a leitura só veio depois.

Uma curiosidade sobre o seu passado também, é que você chegou a passar por 10 anos de teatro, e com isso acabou desenvolvendo além de uma paixão, também criou uma desenvoltura melhor. Acredita que essa experiência tenha a ajudado posteriormente a se dar melhor com seus vídeos? Existem um perfil certo para estar no YouTube?

Eu sempre fui uma pessoa muito tímida, porque eu era uma criança muito introspectiva até pelos problemas que eu tive. Eu tinha um dentinho que tinha um nervo estrangulado porque uma criança me derrubou no intervalo e eu passei a usar um tempão, então essa parte de socialização na escola era muito difícil. Fiz o teatro puramente para eu ficar mais desinibida e não necessariamente para uma projeção e querer seguir a carreira, então, sim, de certa forma ele ajudou nos vídeos, porém, acredito que a forma de comunicar foi algo que foi desenvolvendo com o tempo e não pelo teatro em si.

Eu não sei exatamente se existe um perfil certo para o YouTube até porque ser um criador de conteúdo desde 2010 e ver que o negócio deu certo e se tornou uma profissão, é uma visão diferente de quem começa a criar conteúdo hoje em dia, porque já é algo consolidado e já é uma profissão. Então, eu não penso que existe necessariamente um perfil para estar no YouTube, até porque hoje em dia a plataforma comporta diversos formatos e isso vem justamente da questão dos nichos que falei e veio com o passar dos anos.

Acredito que seria muito generalista falar que existe um perfil quando já existem vários formatos de produção de conteúdo diferente, por exemplo, mesmo eu sendo uma pessoa que faz conteúdo, não sei como é o desenvolvimento de um canal de culinária e a criação de conteúdo deles, então, suponho que a plataforma comporta diversos tipos de produções e produtores.

Natalia Kreuser (Foto: Reprodução/Instagram)

Não querendo chamar de anciã, porém, fazendo referência ao seu tempo na rede, a sua presença já vem sendo marcada desde 2005 na época do Orkut e em 2010 quando iniciou um período para migrar para o Twitter, e nisso você também tentou outros formatos como as esquetes que tinha como inspiração o Guilherme Zaiden. Como foram as experiências dessa época?

Como em qualquer meio de trabalho, as experiências profissionais que você soma, acabam tornando o que você é hoje, tudo depende da forma de como você digere essas experiências. Eu, por exemplo, já trabalhei em agência fazendo edições de vídeo, e isso foi um aspecto que me ajudou a trazer mais agilidade para a edição de meus próprios vídeos. Quando falamos de produção de conteúdos, nós acabamos falando de áreas onde indiretamente precisamos estar atuando, então, precisamos entender um pouco sobre edição, sobre a parte de atendimento nos e-mails, em simultâneo entender sobre a produção do conteúdo, sobre iluminação, câmera, tudo para conseguir fazer o vídeo cada vez melhor… Então, acredito que cada área que a gente acabe atuando acaba sendo um aprendizado profissional só que em esferas diferentes.

A respeito do seu conhecimento sobre tecnologia e jogos, você passou por experiências de colunista em blogs como o “Depois dos Quinze” da Bruna Vieira (2013) e para o TechTudo da Globo.com. Olhando para si mesma, como você melhor define essa sua sincronia entre as séries, os games e a tecnologia? Já existiu algum outro segmento que pensou em abordar, porém acabou adiando?

Já trabalhei com nichos diferentes, porém, acredito que estou em um lugar que eu me encontrei. Todas essas coisas fizeram parte da minha jornada, como escrever para o TechTudo, onde consegui desenvolver muito mais uma parte jornalística e que me ajudou a me desenvolver em outras áreas das quais atuo hoje em dia, como fazer entrevistas com o elenco. Então, sinto que me encontrei e quero seguir isso por muito tempo.

Confira o último vídeo postado por Natália:

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