Resgate Histórico

“Partiremos ao Amanhecer”: A Jornada Fascinante de Descoberta das Origens Italianas por Luiz Gustavo Parise

O autor reconstitui em detalhes a vida e a trajetória dos imigrantes italianos no Brasil, em um romance histórico repleto de emoção e autenticidade

Publicado em 15/07/2023 01:42
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Luiz Gustavo Parise, um paulista curioso sobre suas origens, mergulhou em uma pesquisa profunda que revelou um universo pouco explorado. Em seu livro “Partiremos ao Amanhecer”, o autor vai além dos relatos comuns de imigrantes italianos e reconstrói em detalhes a vida cotidiana tanto na Itália quanto no Brasil, desde o período pré-imigração até o pós-chegada dos italianos ao novo país.

Com mais de dois mil documentos consultados na Itália, inúmeras entrevistas realizadas e visitas aos lugares por onde seus antepassados passaram, Parise compôs uma história verídica no formato de um romance histórico. Ao longo das 400 páginas, o leitor é transportado para cenas marcantes, como o embarque no porto de Gênova e o emocionante nascimento do primeiro filho do casal Parise, em 1798, enquanto as tropas napoleônicas invadiam a vila em que viviam.

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Ao resgatar a trajetória de sua própria família, o autor também aborda a história de milhões de brasileiros descendentes de italianos, formando uma das maiores comunidades de origem italiana no mundo. “Partiremos ao Amanhecer” traz não apenas a história dos Parise, mas também menciona dezenas de outros sobrenomes de ascendência italiana presentes em todo o Brasil. O prefácio é assinado pelo produtor cinematográfico Rubens Gennaro, reconhecido por seus filmes que abordam a imigração italiana.

Luiz Gustavo Parise, além de piloto de avião, possui formação em Psicologia e Gestão de Empresa Aérea. Sua paixão por histórias e culturas diversas vem desde a infância, e ele já explorou mais de 30 países ao redor do mundo. Com “Partiremos ao Amanhecer”, Parise compartilha sua fascinante jornada de pesquisa e reconstituição histórica, oferecendo aos leitores uma obra que mescla fatos e emoção em uma narrativa envolvente.

Como surgiu a inspiração para escrever o livro “Partiremos ao Amanhecer” e mergulhar na história de seus antepassados?

Este livro foi motivado por minha curiosidade e pelas descobertas que fiz durante uma pesquisa extensa sobre minha família. Além disso, queria deixar um legado histórico acurado sobre as origens da família Parise, especialmente para as próximas gerações.

As inspirações que encontrei ao longo dessa jornada de investigação me impulsionaram a mergulhar nas raízes da família, explorando sua história e compreendendo a importância de preservar isso para o futuro. Ao escrever este livro, meu objetivo foi registrar não apenas fatos e datas, mas também a rica herança cultural, os valores transmitidos de geração em geração e os eventos significativos que moldaram a trajetória das famílias que emigraram da Itália ao longo do tempo, especialmente das que saíram da região do Vêneto.

Acredito que ao entender de onde vieram, as novas gerações poderão se conectar com suas raízes e valorizar a herança de seus antepassados. Este livro é minha contribuição para a preservação da memória familiar e um tributo aos que vieram antes de nós.

Como foi o processo de pesquisa e coleta de informações para reconstituir o cotidiano da época retratada no livro?

O processo de pesquisa se deu conforme a minha curiosidade aumentava para saber e entender melhor como era a vida dos meus ascendentes na Itália. Eu li muitos livros sobre a história daquela região, o que me permitiu descobrir detalhes sobre a fundação de Adria, que é muito velha – inclusive há relíquias dos etruscos (uma das civilizações da antiguidade que habitaram a Península Itálica antes dos romanos, a partir do século IX a.C.) no local. Teve também a época de domínio do Império Romano na região, depois disputas de poder entre reinos italianos (como quando a cidade pertenceu à República de Veneza), as invasões do exército de Napoleão Bonaparte e posteriormente, a conclusão do processo de unificação italiana, em 1871. Quanto as tradições e costumes, eu busquei basicamente em livros históricos específicos sobre a cultura e dialetos Vênetos (região do norte da Itália de onde muitos dos imigrantes que vieram para o estado de São Paulo saíram).

Eu sempre gostei de história e nesse caminho de busca eu fiquei fascinado por perceber o quanto a vida dos meus antepassados foi afetada pelos acontecimentos que para nós, no Brasil, são meros fatos ou datas escritas em livros escolares.

Quais foram os principais desafios ao escrever um romance histórico baseado em fatos reais?

São vários desafios, porém os principais foram: manter-me fiel aos fatos conforme relatados nos livros históricos, usar com fidelidade as datas de nascimento, batismo, casamento e óbito que encontrei nos registros das igrejas e cartórios sobre os personagens (pessoas da minha família e de outras famílias de imigrantes), além de imaginá-los e retratá-los como homens e mulheres do seu tempo, contando como devem ter sido suas vidas na forma de um romance.

Por exemplo, descobri que o papa Pio VI passou pelo rio Pó em 1782 durante uma viagem diplomática rumo a Viena. Então, se meu sexto avô tinha 9 anos e morava a beira desse rio nesta época e sua família era composta de católicos fervorosos, por que não retratar como esse acontecimento deve ter mexido com aquela pequena cidade? Foi o que fiz. Segui em busca de tudo que podia ser descoberto por fontes históricas, sempre procurando ser o mais verossímil possível.

Luiz Gustavo Parise (Foto: Divulgação)

Além da história da família Parise, o livro menciona outros sobrenomes de origem italiana. Como você fez essa conexão com a história de outros descendentes de imigrantes italianos?

Ao estudar o grande fluxo migratório de italianos para o Brasil, que ocorreu principalmente no fim do século XIX e início do século XX, percebi que as trajetórias das famílias foram basicamente as mesmas, desde a situação de fome que enfrentaram em seus lugares de origem, o estímulo por parte da Igreja Católica para a viagem, o caminho de trem até Gênova e o percurso de navio até o Brasil.

Alguns foram para o Sul tomar posse das colônias que ganharam e outros, como foi o caso da minha família, seguiram para a Hospedaria dos Imigrantes e posteriormente para as fazendas de café do interior de São Paulo.

Quais foram os critérios utilizados na seleção das cenas e eventos retratados no livro?

Escolhi episódios em que personagens históricos conhecidos estiveram envolvidos (como a passagem do Papa Pio VI de barco pelo rio Pó, o reinado dos Dodges na República de Veneza e a invasão do exército de Napoleão Bonaparte). Contei sobre intempéries da natureza, como uma mini era glacial ocorrida na região no fim dos anos 1700, além da grande enchente do rio Ádige em 1881 que afetou diretamente as colheitas dos três anos seguintes. Também escrevi sobre as principais mudanças políticas, por exemplo, o fim da República de Veneza em 1798, a anexação da região do Vêneto ao Império Austríaco, emancipação e criação do Reino da Itália e posterior unificação em 1871, que afetaram profundamente o cotidiano dos habitantes da região, culminando com o estado de miséria e fome que os compeliu a emigrar.

Em um âmbito mais pessoal, relatei momentos dramáticos que os camponeses da época viveram, como a frequente morte das mulheres no parto, ocorrência de doenças como a Pelagra que era decorrente da falta de consumo de proteínas e excesso de milho na forma de polenta, além das dificuldades enfrentadas ao viajar de navio com crianças pequenas e idosos. Enfim, escolhi situações com as quais todas as famílias de imigrantes conseguem se identificar.

Como você equilibrou os aspectos históricos e ficcionais na narrativa do livro?

Na verdade, meu maior desejo era conhecer e compreender as origens de minha família e ao relatar minhas descobertas, homenagear o legado que eles nos deixaram. Por isso meu desejo foi contar com a maior base histórica possível, como eles viviam na Itália, como vieram parar no Brasil e como viveram por aqui inicialmente.

Sempre fui uma criança curiosa e que fazia muitas perguntas, e esses questionamentos sobre nossas origens, nenhum parente sabia me responder. Conforme fui pesquisando, me deparei com acontecimentos e personagens que estudamos nas aulas de história fazendo parte do cotidiano de meus antepassados na Europa e, especialmente no norte da Itália. Então, veio a ideia de relatar essas descobertas na forma de um romance.

Quais foram as descobertas mais surpreendentes que você fez durante a pesquisa e escrita do livro?

A pesquisa foi muito extensa, e por isso várias descobertas me surpreenderam, mas posso destacar três delas. Fiquei impressionado ao descobrir como eles viviam na Itália, em uma condição diferente da que eu imaginava, numa situação de muito mais pobreza. Foram gerações e gerações vivendo deste modo.

Da mesma forma me impactou entender as mudanças políticas e o contexto histórico da Itália a partir da metade do século XIX, além do papel de intempéries da natureza, que contribuíram para a insustentabilidade da situação de miséria e fome, o que os compeliu a emigrar.

Por último, foi uma grande surpresa e até posso considerar um presente, ter encontrado o registro da chegada de meus antepassados na Hospedaria dos Imigrantes da cidade de São Paulo. Foram muitos anos até que eu cogitasse a hipótese de que o sobrenome tivesse sido grafado de forma errada (situação que depois eu soube, é muito mais comum do que se imagina), e foi assim que eu encontrei a família Parise, registrados como “Páris”.

Como você acredita que a obra pode contribuir para o resgate da história da imigração italiana no Brasil?

Procurei relatar de forma romanceada, que é um jeito que considero agradável de ler, a história do grande fluxo migratório recebido pelo Brasil (que aconteceu a partir do fim do século XIX) sobre o qual muitas pessoas já ouviram falar, mas poucas conhecem em detalhes. Dessa forma, quis contribuir para divulgação de nossas origens, especialmente no caso dos 25 milhões de descendentes de italianos que vivem no Brasil e também enaltecer a força, a determinação e a contribuição extremamente significativa que os imigrantes deram para que o estado de São Paulo e o sul do Brasil sejam regiões grandemente desenvolvidas e ricas atualmente.

Quais são suas expectativas em relação ao impacto do livro na compreensão da cultura e das raízes italianas por parte dos leitores?

Minha grande expectativa é preservar essa história para todos os descendentes de imigrantes e também para as gerações futuras. Ao relatar datas, fatos, o cotidiano da vida na Itália e como os italianos viveram no Brasil logo ao chegarem, quis valorizar a rica herança cultural, os valores transmitidos e os eventos que forjaram a garra com a qual muitos deles conquistaram fortunas às custas de muito trabalho, disciplina e fé. Desejo que não esqueçam todos os obstáculos/ sacrifícios enfrentados e superados para estarmos aqui hoje. Ao entender de onde viemos, as novas gerações podem se conectar e ter seus antepassados como exemplo e referência.

Como sua experiência como piloto de avião e suas viagens influenciaram sua abordagem na escrita deste livro?

A oportunidade e o privilégio de ter entrado em contato com diversas culturas distintas proporcionados por minha profissão, bem como a facilidade de viajar para outros países, aguçou minha curiosidade natural e desenvolveu em mim um olhar investigativo. A constante experiência de ir e vir e a convivência com diferentes idiomas, também me proporcionaram uma valiosa bagagem para escrever essa história.

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