Tiago Cavaco: a voz provocativa que desafia os evangélicos no diálogo entre igreja e sociedade

Pastor punk rock, importante formador de opinião, publica coletânea de crônicas sobre moralidade contemporânea

Publicado em 10/05/2023 15:51
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A voz impactante no diálogo entre igreja e sociedade é uma característica distintiva do escritor português Tiago Cavaco, reconhecido tanto em Portugal quanto no Brasil. Nesse intercâmbio cultural complexo, o autor propõe corajosamente caminhos para os evangélicos enfrentarem os desafios contemporâneos.

Em seu novo livro, intitulado “Férias de fornicação e outras murmurações de um moralista”, Cavaco reúne 50 artigos originalmente escritos para o jornal português Observador. A crônica que abre e dá título à edição, “Férias de fornicação”, aborda como a juventude rica e privilegiada portuguesa gasta o dinheiro dos pais nas praias de Alentejo. Assim, é possível compreender o tom provocativo e o raciocínio perspicaz explorados pelo pastor e jornalista em temas como moralidade, religião, política e tecnologia, sempre habilmente conectados à fé cristã.

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Além de liderar a igreja da Lapa, em Lisboa, Tiago Cavaco é também um músico de punk rock, compositor, cantor e cofundador da editora musical FlorCaveira. Como autor, ele publicou pela Mundo Cristão os livros “Arame farpado no paraíso” e “Doidos por discernimento”.

Tiago Cavaco é pastor da Igreja da Lapa, localizada em Lisboa, Portugal, e possui formação em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa. Além disso, é um talentoso músico, compositor e cantor, tendo fundado, juntamente com Samuel Úria, a editora musical FlorCaveira. Seus livros “Arame farpado no paraíso” e “Doidos por discernimento” foram publicados pela Mundo Cristão.

Fundada em 1965 na cidade de São Paulo pelo missionário americano Peter Cunliffe, a Editora Mundo Cristão é reconhecida por publicar Bíblias e livros de autores nacionais e estrangeiros, abrangendo diversos gêneros literários, sempre com base em uma postura teológica cristã, histórica e equilibrada. Suas obras, em formato impresso e digital, são distribuídas no Brasil e em países de língua portuguesa por meio de livrarias, atacadistas, sites e igrejas. A editora, de origem brasileira e com tradição protestante, não possui vínculo formal com nenhuma denominação cristã específica. Comprometida com uma rigorosa Política de Qualidade e Responsabilidade Social, foi a primeira editora brasileira a receber o selo ISO 9001:2008, o que demonstra seu compromisso com altos padrões de qualidade e satisfação de clientes, colaboradores e fornecedores.

Como você descreveria o estilo e a abordagem do seu novo livro “Férias de fornicação e outras murmurações de um moralista”?

O livro coleciona mais de meia centena de crónicas publicadas no Observador, o maior jornal online português. Como os leitores do Observador não são um auditório religioso, quando abordo assuntos que podem ser acerca da fé tento fazê-lo com algum saudável sentido de provocação e humor.

Quais são os principais temas explorados em sua obra, e como ele os relaciona à fé cristã?

Apesar de não escolher previamente os temas das crónicas, existem umas quantas obsessões minhas que inevitavelmente marcam os textos: a minha relação de amor-ódio com Portugal, o meu país; a minha relação de amor-ódio com artistas; e a minha tendência de gravitar entre gratidão e murmuração. Todas as fraquezas pessoais que moram neste assuntos que me fascinam só podem ter esperança se olhar para elas com fé em Cristo. De outro modo, sobro eu e as minhas obsessões geralmente maldispostas.

Como o livro aborda as contradições e tensões da vida contemporânea, e de que forma o autor apresenta sua visão cristã de maneira confrontadora?

Tenho abordar no livro as nossas tensões com uma ponta de escárnio e uma ponta de amor. Ou melhor: um escárnio amoroso. Por um lado, não podemos privar-nos do prazer de rirmos das melhores piadas que são aquelas que involuntariamente provocamos com o nosso excesso de confiança. Por outro lado, encarar com amor o que em nós é ridículo é das coisas mais cristãs que podemos fazer.

Qual é a importância do prefácio escrito por João Pereira Coutinho na edição do livro brasileira?

O João Pereira Coutinho é um velho amigo. Conhecemo-nos do tempo do advento dos blogues em Portugal, no início do milénio. O João é também das melhores vozes que a imprensa de língua portuguesa tem e, por isso, poder tê-lo com prefaciador foi uma honra imensa. Quando uma pessoa que tentas imitar no estilo e na substância oferece o seu próprio nome a um livro teu, esse é um milagre imenso!

Tiago Cavaco (Foto: Divulgação)

Além de ser escritor, você também é pastor, músico e cofundador de uma editora musical. Como essas diferentes áreas de atuação influenciam sua escrita e perspectiva abordada no livro?

Acredito que a minha dedicação à palavra é, de fato, tripla: a escrita, a pregada e a cantada. Se, por exemplo, sempre tentei que o rock que toco não estragasse nada no sermão que prego, também é verdade que não consigo separar o fato de ser o mesmo quando passo do púlpito para o palco ou para a página. Em último grau, espero que a mistura desses pratos diferentes traga um condimento especial e não a perda dos seus sabores.

Como você conecta a experiência cristã com os desafios próprios dos tempos atuais, especialmente em relação à moralidade, religião, política e tecnologia?

A minha experiência cristã não é algo que sinta que preciso de conectar com os desafios deste tempo; a minha fé é o que me faz vivê-los mesmo. Nesse sentido, não preciso de ganhar uma perspectiva cristã acerca da moral, da religião, da política ou da tecnologia. Sem o cristianismo nem sequer sei o que moral, religião, política ou tecnologia significam. O desafio para mim não é tanto o de juntar a Bíblia ao mundo que vejo—sem a Bíblia não chego sequer a ver o mundo.

De que forma o livro “Férias de fornicação e outras murmurações de um moralista” pode impactar os leitores brasileiros, despertando reflexões e questionamentos sobre a sociedade contemporânea?

Em primeiro lugar, diria que provavelmente o Brasil não tem assim tantos murmuradores moralistas assumidos na imprensa. Nessa medida, lidar com o livro é lidar com uma espécie rara. É uma espécie que mantém alguma capacidade de se queixar de um mundo que se presume tão melhor do que no passado. Se hoje nos achamos tão virados para a frente, talvez não seja tão ruim assim termos alguém que tem saudades de algumas coisas do passado. Claro que ao dizer isto, não me assumo como saudosista de uma vida que não tive. Mas, pelo menos, o meu objetivo é manter a perigosa liberdade de fazer menos de uma época com excesso de autoestima como a nossa.

Como autor, você tem outros livros publicados no Brasil pela editora Mundo Cristão. Como essa obra se diferencia ou complementa o seu trabalho anterior?

Enquanto coleção de crônicas, esta é uma obra mais leve. É mais fácil de pegar e ler porque em 5 minutos a pessoa sente que já terminou alguns ciclos de leitura, lendo menos. O livro anterior, “Arame Farpado no Paraíso” (Editora Mundo Cristão), era mais exigente porque, com capítulos maiores, exigia mais dedicação do leitor. Este é o livro perfeito para ter mais satisfação com menor esforço, além de compreender questões da vida religiosa em meio à cultura e política de forma mais singular.

Além de seu blog e coluna no jornal Observador, de que maneira você tem se engajado na discussão sobre os temas abordados em seu livro?

Creio que a maneira mais eficaz de me envolver nos assuntos que o livro trata nem é tanto a da imprensa mas a do dia-a-dia, mas na vida da comunidade. Enquanto parte de uma Igreja, sei que é na rotina comum que mostramos que realmente nos envolvemos com os assuntos que estão nas nossas conversas. Falar e escrever é fundamental porque, enquanto cristãos, acreditamos que o mundo é criação do verbo divino. Ao mesmo tempo sabemos que a força das nossas palavras acompanha as pessoas que Deus coloca à nossa volta, sobretudo quando longe das páginas públicas que chegam à multidão.

Como você acredita que o livro “Férias de fornicação e outras murmurações de um moralista” pode contribuir para o diálogo entre a igreja e a sociedade, tanto em Portugal quanto no Brasil?

Os leitores nem sequer têm de concordar comigo ao ler as minhas murmurações moralistas. Mas se conseguirem, pelo menos, sorrir com algumas delas, pode diminuir parte do preconceito e julgamento instantâneo que têm envenenado a nossa capacidade decrescente de conversar com quem discorda de nós. Esse já seria um começo promissor!

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