Além do modismo: João Guilherme e a questão da homofobia na música sertaneja

A polêmica envolvendo o uso de um cropped por João Guilherme, filho de Leonardo, é apenas uma face do problema maior de homofobia na música sertaneja

Publicado em 10/07/2023 11:58
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Nesta semana, um assunto muito polêmico movimentou indiretamente a música sertaneja. João Guilherme, filho caçula dos 6 herdeiros de Leonardo, causou na internet após surgir de cropped para um evento de moda. Sempre excêntrico nos seus looks, o ator gerou boatos sobre sua sexualidade e muitas críticas em seu nome, inclusive de outros famosos.

Após a repercussão, o ex-BBB Nego Di fez um vídeo em tom homofóbico criticando suas roupas, que ganhou o compartilhamento do ator Rafael Cardoso, concordando com as “piadas”. A partir daí, a história virou uma bola de neve de opiniões, críticas e ofensas, até que o próprio João Guilherme viesse se pronunciar.

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O pronunciamento fortíssimo de João Guilherme veio na noite da última quinta-feira (29). Com uma série de prints sobre violência contra pessoas LGBTQIAPN+, o filho de Leonardo detonou os ataques que vem sofrendo pelo uso do cropped e falou abertamente sobre sua sexualidade, que vem sendo questionada há tempos devido ao seu estilo:

“A tentativa de me ofender ao dizer que eu sou gay não só não me ofende nem um tiquinho, como me dá ainda mais vontade de ser um aliado presente e ativo da causa. Não tenho intenção nenhuma de ‘lacrar’ em cima de uma causa tão séria como esta, então deixo a atenção para o que realmente merece foco! Nos stories vou colocar links pra vocês conhecerem gente e organizações do terceiro setor que estão levando informação e realmente fazendo algo de útil por esse mundo tão cagado”, disparou João Guilherme em um trecho.

A publicação foi compartilhada em massa nas redes sociais e curtida por milhões de pessoas. Nos comentários, famosos como Hugo Gloss, Gil do Vigor, Carmo Dalla Vecchia, Sabrina Sato, Fernanda Paes Leme e Bruna Marquezine, que foi envolvida em boatos de affair com Luan Santana, se posicionaram favorável a seu discurso.

A homofobia presente na música sertaneja

Cantor Bruno (Foto: Reprodução/Internet)

Sendo a música sertaneja um ambiente dominado majoritariamente por homens conservadores, em sua maioria apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que adota discursos homofóbicos com frequência, este é um ambiente em que – infelizmente – o discurso é adotado em diversos momentos, como forma pejorativa ou disfarçado de “piada”.

Não são poucas as polêmicas de sertanejos envolvidos em ofensas ao grupo LGBTQIAPN+. A mais recente aconteceu nas últimas semanas, quando o cantor Bruno, da dupla com Marrone, cometeu um ato de transfobia com uma repórter transexual da Rede TV, que acabou em processo judicial e inclusive pode levá-lo à cadeia, uma vez que o crime é inafiançável.

E essa é apenas a ponta do iceberg. Na época da pandemia, com as lives sertanejas em alta, várias outras polêmicas foram ditas e repetidas para milhões de telespectadores ao vivo, sem pudor, vergonha ou ressentimento. O cantor Zé Neto chegou a imitar trejeitos homossexuais quando “pagou uma aposta” vestindo a camiseta do São Paulo em uma de suas transmissões, o que gerou revolta em muitos internautas.

Nas lives “Cabaré” o assunto também se repetiu: Eduardo Costa, Leonardo Bruno e companhia faziam “brincadeiras” constantes sobre homossexuais, inclusive com o próprio Marrone, que chegou a ser humilhado em diversas ocasiões. A própria Marília Mendonça, falecida em novembro de 2021, chegou a ser cancelada e acusada de transfobia após falas pejorativas com o suposto caso de um amigo com uma mulher transexual.

Marília, por sua vez, aproveitou o engajamento milionário de uma outra transmissão para se desculpar do ocorrido e admitir que estava errada, assim como fizeram alguns dos outros sertanejos que passaram pela mesma situação.

O que os sertanejos estão fazendo para mudar isso?

Daniel e Gloria Groove regravam música ‘Te Amo Cada Vez Mais’ e canção se torna ainda mais poderosa (Foto: Divulgação)

Se agora João Guilherme viraliza defendendo, apoiando e sendo um aliado da causa LGBTQIAPN+, saiba que temos mais adeptos dessa atitude, embora sejam poucos considerando a grandiosidade e popularidade da música sertaneja na atualidade.

Um dos primeiros a dar “a cara a tapa” foi Lucas Lucco, que em 2018 lançou “Paraíso” ao lado da cantora Pabllo Vittar. Com letra e clipes sensuais e pegada pop, a parceria caiu no gosto do público, mas o ambiente da música sertaneja ainda não estava preparada para isso.

Em várias entrevistas, Lucas Lucco, que chegou a ser considerado um ícone da comunidade LGBT na época, revelou que chegou a perder contratos e shows, única e exclusivamente pelo preconceito enraizado no gênero que, como citamos acima, é composto majoritariamente por homens conservadores. Inclusive, muitos questionamento sobre sua sexualidade partiram daí.

Outro sertanejo que nos surpreendeu, aos 40 anos de carreira, foi o cantor Daniel. Com uma carreira íntegra, longe de polêmicas e construída de muito sucesso, o ex-parceiro de João Paulo lançou recentemente uma parceria com a drag queen Gloria Groove e fez o maior sucesso entre a crítica, uma vez que a parceria pegou todo mundo desprevenido.

Entre as mulheres, Lauana Prado, Yasmin Santos, Luiza Martins, Paula Mattos e Roberta Mirandaassumiram publicamente serem membros da comunidade LGBTQIAPN+. Elas, com força, sempre lutam pela causa e estão a frente de questões e discussões importantes sobre os preconceitos mais diversos.

Para finalizar, não podemos deixar de citar Gabeu, filho do cantor Solimões que vem revolucionando a música sertaneja com o ‘pocnejo’ e o ‘queernejo’. Assumidamente gay, o cantor sertanejo é um dos principais nomes da nova geração que movimenta o gênero e o torna mais acessível para todos os tipos de público.

Confira mais notícias sobre música sertaneja no Movimento Country com Hernane Freitas

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