Crítica

Protocolar, disco de remixes reafirma vocação de Rita & Roberto para as pistas

Concentrado em obra criada entre 1979 e 1982, disco volta a jogar Rita e Roberto nas pistas

Publicado em 20/04/2021 08:30
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Disco: Rita Lee e Roberto de Carvalho – Classix Remixes vol. I

Artista: Vários

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Gravadora: Universal Music

Cotação: * * *

Entre 1979 e 1982, a dupla Rita Lee e Roberto de Carvalho construiu obra magistral que não só levou o casal para o topo das paradas musicais – em reinado comparável apenas ao de Roberto Carlos no período -, como também pavimentou o caminho para uma união afetiva e artística que dura ainda hoje.

Embora o suprassumo desta obra esteja alocada justamente no período entre os álbuns Rita Lee (1979) e Rita Lee & Roberto de Carvalho (1982), a dupla ainda conseguiu eventuais pérolas pop em discos menos inspirados, e alguns grandes hits que manteve em alta o status de grandes hitmakers desta que ainda hoje é a dupla mais importante do pop rock nacional.

Entretanto, que pesem hits eventuais, é este profícuo período de quatro anos retratado em Classic Remixes Vol. I, disco que pesca alguns clássicos do repertório da dupla e os entrega a DJs para criarem remixes propícios para as pistas de dança.

É verdade que, para este fim, entregar a obra do casal a DJs é mera formalidade. As canções de Rita e Roberto já são arquitetadas com perfeição para qualquer pista de dança. os compositores criaram pérolas do quilate de Lança Perfume (1980), clássico rock carnavalesco capaz de animar qualquer festa e, talvez por isso, um dos remixes menos saborosos do álbum orquestrado pelo filho da dupla, João Lee.

Com a assinatura The Reflex Revision, a gravação de (excessivos) oito minutos e cinquenta e um segundos desossa toda a sedução da canção lançada em álbum de 1980 que, de tantos hits, é hoje encarado como uma espécie de coletânea natural da obra da dupla.

Rita Lee e Roberto de Carvalho – Classix Remixes Vol. 1

Parecido acontece com Mania de Você, canção do também ótimo álbum anterior que aparece em duas versões neste álbum de remixes. A primeira, remixada pelas duplas Dubdogz e Watzgood, até conserva alguma sedução da gravação original, posicionando a canção como uma boa opção dançante que poderia estar dentro da própria discografia da dupla.

Contudo, a segunda, assinada por Harry Romero, goza de igualmente excessivos sete minutos e sete segundos em remix cansativo e que pouco dialoga com a obra dos compositores, levando uma das canções mais deliciosas do repertório de Rita e Roberto para um campo meramente protocolar da música eletrônica.

Contudo, apesar de alguns deslizes, o primeiro volume da série Classix Remixes focado na obra de Rita Lee e Roberto de Carvalho, tem saldo positivo, principalmente pelo ótimo trabalho de nomes como Gui Boratto, que insere groove eletrônico em Mutante (1981) e Mary Olivetti, que brinca com a influências do rockabilly para remixar Cor-de-Rosa Choque (1982).

Já Tropkillaz abusa da estética funky para dar novo gás a Saúde (1981), enquanto a dupla Chemical Surf busca no jazz dos anos 20 e no dubstep influências para fazer crescer Nem Luxo, Nem Luxo (1980).

Única canção fora deste período profícuo, Vírus do Amor (1985) tem sua tensão desperdiçada em leitura pouco inspirada de Krystal Klear, tal qual Renato Cohen, que se excede e perde a chance de trabalhar com os ares psicodélicos sugeridos por Atlântida (1981) em remix meramente protocolar.

Se Inner Soto apenas acentua o tom cinematográfico de Doce Vampiro (1979), DJ. Marky cria duas novas leituras saborosas para Caso Sério (1980) fincadas na música latina e no drum’n’bass.

Se levar em conta que a obra da dupla Rita Lee e Roberto de Carvalho já foi base para álbum de remixes muito mais interessante editado na virada do século (Rita Releeda, de 2000) e orquestrado por Torcuato Mariano, Marcus Lyrio e pelo próprio ​Roberto, é difícil não se deixar levar pela impressão de que Classix Remixes vol. I é apenas álbum protocolar que apenas reafirma a vocação da dupla para as pistas.

E talvez esteja aí a real virtude da coletânea orquestrada por João Lee: voltar as atenções para a obra magistral e diversa criada por dois magos pop que jamais sairão da memória popular.

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