No dia 14 de outubro a Anatel deu sequência a mais uma rodada de debates sobre Competição, desta vez com o foco no chamado Mercado da Atenção. Moderado pela Gerente Paula Fontelles, participaram Marcelo Bechara, ex-Conselheiro Diretor da agência, Thomas Felsberg da BBL, Gabriela Rocha pela ABDTIC – Associação Brasileira de Direito das Tecnologia, da Informação e das Comunicações e Fernando Magalhães, Diretor de Programação da Claro.
No debate, foram abordados o crescimento exponencial do mercado de games e os impactos da publicidade programática na disputa pela atenção do consumidor, bem como os riscos das grandes plataformas em minar a competitividade e diversidade de serviços.
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A indústria de games
A Gerente de Acompanhamento Societário Paula Fontelles falou das mudanças tecnológicas e nos hábitos de consumo além dos importantes investimentos em infraestrutura de redes. O primeiro a falar foi Thomas Felsberg, da industria de games. Para ele, há uma grande disputa dos diversos serviços pelas horas livres do consumidor e com a pandemia, as opções de entretenimento ficaram limitadas e favoreceram o crescimento do mercado de games, em especial. Entende que disponibilizar mais formas de entretenimento é cada vez mais importante e a função do governo é promover essas iniciativas ao invés de inviabilizar a competição ou calcificar os atuais campeões que estão na liderança desse mercado. E os diferentes atores e prestadores de serviço precisam decidir se vão se aliar a esse movimento e viabilizar novos entretenimentos.
Marcelo Bechara « Um aumento exponencial da oferta de produtos que buscam captar a atenção »
Depois, foi o advogado Marcelo Bechara, Diretor de Relações Institucionais do Grupo Globo. Marcelo Bechara informou que desde a década de 70 se falava no mercado de atenção. Lembrou que em feiras populares sempre tinha alguma chamando atenção em meio a multidão para chamar a atenção, objeto de cobiça por aqueles que querem vender algo.
Para Bechara, se observa na tecnologia do entretenimento é um aumento exponencial da oferta de produtos que buscam captar a atenção. Marcelo Bechara expos ainda a evolução geracional dos millenials e plurals. Contudo, Bechara chamou atenção para a a publicidade. Para ele, antigamente a publicidade era associada a um conteúdo com o qual não havia necessariamente correlação. Agora, deixa de buscar espaço e foca em audiência para que ocorra interação e engajamento para garantir rentabilização das receitas publicitárias.
E o que sustenta a economia da atenção é a publicidade e a assinatura. Marcelo Bechara afirmou que a partir da economia de dados, que abriu-se o espaço para a mídia programática. Segundo ele, se o conteúdo é rei a tecnologia é a rainha.
Bechara disse que as empresas de telecomunicações deveriam se enxergar como “empresas de internet”, pertencentes a um ecossistema altamente dependente da infraestrutura de telecomunicações para sustentação do modelo. Lembrou que não há games, filmes e teletrabalho sem rede.
Marcelo Bechara disse que é importante tratar a plataforma como uma “infraestrutura” e observá-la em perspectiva, pois ela pode “matar” certos negócios com base nas capacidades da plataforma. Algumas plataformas têm funções poderosas e podem determinar o destino de outros serviços neste ecossistema. Além disso, isso também pode interferir no mercado de produtos de cuidado, pois pode ameaçar a atenção de certos produtos e o movimento de “sequestro de atenção” ou “jardim murado”. Portanto, ele defendeu a regra de justiça chamada de mínimo, corrigindo a má conduta regulatória.
5G e a Televisão 3.0
Para o futuro, Bechara observou que ainda haverá sempre conteúdo linear dos esportes e notícias e tende a ser veiculado pela mídia tradicional. Com o advento do 5G e da Televisão 3.0, as fronteiras entre broadband e broadcast tenderão a convergir, tornando difícil distinguir entre esses dois serviços. Ele acrescentou que as autoridades antitruste não têm real noção quanto à qualidade dos serviços prestados pelas grandes plataformas. E o CADE tende a combinar a visão de avaliar a concentração transversal e como gerenciar dados e não apenas olhar os preços.
Já para Gabriela Rocha, Os serviços OTT trouxeram muitos aspectos positivos em todos os elos da cadeia do setor, como democratização e diversidade de acesso a conteúdos (consumo e produção). Ele enfatizou os interesses dos produtores: por causa da relação de cooperação com as plataformas de streaming media, os produtores podem produzir seus trabalhos. O potencial do streaming media está crescendo, especialmente desde o início da pandemia.
Fernando Magalhães encerrou falando que a comercialização de conteúdo no futuro, não deve comportar agregação de conteúdo, mas deve contratar múltiplos provedores Os principais protagonistas deste mercado serão parte de um clube com poucos membros e dificilmente conseguirá ingressar novos membros. Lembrou que ainda é necessário investir nas redes de telecomunicações para continuar a fornecer novos produtos e suportar novas aplicações, bem como na produção de conteúdos, para que os assinantes continuem a ter valor acrescentado.
Ao final, foram respondidas perguntatas e feitas considerações finais. A Anatel realizará ainda mais dois workshops dias 21/10 e 27/10.